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segunda-feira, 8 de março de 2010

POR TRÁS DA LÂMINA

Tudo está escuro e eu estou neste ambiente por trás das cortinas. Estou apreensivo quando a porta da sala se abre e um sujeito alto, magro, de feição ossuda, cabelos negros entra, fecha a porta e como se o local lhe fosse familiar, circula entre os móveis sem acender a luz, certifica-se de que não há ninguém em casa, caminha até o sofá e se senta como se estivesse esperando alguém. Talvez esteja. Só não entendo porque ele não acende a luz. Ele parece muito concentrado no que irá fazer. Na penumbra, retira um cartão do bolso e, como se estivesse se certificando quanto à casa em que está, relaxa e acende um cigarro. Não consigo descrever os móveis porque está muito escuro. Só sei que pelo tamanho da sala que é dividida em dois ambientes e sei disso porque quando o homem circulou pela sala, pude perceber essa divisão e isso me dá a impressão de que esta não é uma simples casa.
Passada meia hora, o sujeito olha o relógio e começa a ficar apreensivo, então, como se quisesse relaxar novamente, talvez para diminuir o nível de ansiedade, acende outro cigarro, levanta-se, dirigi-se ao bar que fica no canto da sala, pega um uísque doze anos, coloca duas doses em um copo e bebe em um único trago. Guarda o uísque e o copo, retorna ao sofá onde termina de fumar o segundo cigarro. Agora ele parece mais tranquilo e quando menos espero, ouço o som de um carro que vem da parte exterior da casa. Ouço também o barulho de um motor, provavelmente o do portão da garagem, o carro entra, o motor do carro é desligado e ouço passos que parecem aproximar-se da porta.
Nesse momento o sujeito se levanta e se esconde atrás da porta. Um barulho de chave entrando na fechadura é ouvido e confesso que meu coração palpita a mil, pois parece que tudo está acontecendo conforme o planejado e dentro de poucos minutos tudo estará acabado. Bom, voltemos para a narrativa. O sujeito parece estar preparado e quando a porta se abre lentamente, posso contemplar que a pessoa é uma mulher. Ela não entra de imediato; é impressionante, mas ela percebe que há algo de errado e tenta recuar. É tarde demais porque o intruso é mais ágil que ela e a puxa para dentro da casa, tapa a sua boca e começa a espancá-la. Ela morde a sua mão e com um movimento rápido se esquiva dele e lhe dá uma rasteira. Ela tenta correr para a porta, e nesse momento, toda a cena acontece muito próxima a mim e eu o vejo rastejar e conseguir agarrar o pé da mulher, que cai por cima da mesa de centro, bate a cabeça e parece estar desmaiada. O sujeito se levanta, limpa o sangue que escorre do seu supercílio, é provável que ele também tenha batido a cabeça, anda em direção à mulher, certifica-se de que ela realmente está desacordada, e após confirmar, tira um punhal de uma bainha presa ao seu cinto, senta-se sobre a mulher – devo confessar que meu coração está quase saindo pela boca – e se prepara para cometer o assassinato...
Caro leitor, neste momento você deve estar se perguntando: – Se você, o narrador, está tão próximo a tudo isso, irá se acovardar e não tomará nenhuma atitude? Bom, devo confessar que você, leitor, tem razão, porque, realmente tomei a atitude que somente um homem da minha posição tem que tomar nestas situações. Aproximei-me da cena, levantei a mão e disse:
– Corta!

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