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segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Quando eu ataco, busco

Principalmente crianças para o luto.

E só há um algo que possa me combater:

É o desenvolvimento social.

Mas enquanto o mundo enxerga mal

Sou alimentada e destruo

Famílias numa tacada

Não importa se no Sertão

Nas Favelas ou em África

Deixo-os em pele e osso

E nem a cachorrada da TV Colosso

É capaz de fazer rir

Quem vasculha na lata de lixo

Bebe água de poço

E se esvai aos poucos

Minguando enquanto loucos

Insanos lhes tiram o direito

De se ter o alimento

Quando roubam o que não é seu

Para preencher seus cofres

E comprar peças de museus

Para enfeitar seus egos

E mostrar aos olhos de todos

Os cegos que não enxergam

Quem sou Eu.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


IMPRESSÕES

...olho e contemplo muitas coisas em questão de segundos. Centenas de carros que quase parados se amontoam na Marginal Pinheiros. São mais de 19h30 e ouço o som de um samba na voz de Johny Alf, um dos precursores da Bossa Nova no Brasil, em uma homenagem a ele um dia após a sua morte.

As impressões são estranhas porque muitas vezes não pensamos nelas. Então mudo o foco da minha visão e me concentro na vidraça e vejo nela o reflexo de um homem com uma camisa vermelha com listras finas e brancas na horizontal, calça jeans e uma mochila nas costas. Seu olhar de cansaço fica ainda mais aparente por causa da barba por fazer. Penso comigo se ele é feliz, se está cansado, voltando do trabalho ou indo à escola ou faculdade. Ele olha para a mesma direção que eu e até parece me encarar, então mudo o foco novamente da minha visão e vejo que estamos em um ritmo bastante acelerado enquanto tudo está parado lá fora. Aos poucos nós paramos também.

Passados uns minutos começamos a nos movimentar novamente e começo a pensar nas sensações e sinto o frio do metal em que estou segurando, o som que ouço me é agradável porque escolhi o que ouvir, e não é som de buzinas ou freadas, muito menos, o som das conversas paralelas das pessoas à minha volta, o som que ouço é da música “Corcovado” na versão de Johny Alf quando ele se apresentou na casa de shows Bourbon Street.

A sensação do som, do tato e da visão e também do mal cheiro que sinto do Rio Pinheiros levaram-me a escrever estas linhas porque cada uma delas me fazem pensar em coisas diferentes. Por exemplo, volto o olhar várias vezes para a vidraça e faço uma comparação àquilo que vemos todos os dias e pensamos nelas por alguns minutos, então é só mudar o foco e o pensamento muda, as direções mudam e até os objetivos mudam. Somos assim, porque toda vez que olhava para aquele homem voltava a pensar o porquê daquela “cara” de infeliz ou cansado. Quando voltava meu olhar para a parte exterior do meu ambiente, meu pensamento via o caos e ao mesmo tempo fazia a correlação dos ritmos interiores, que em mim surtiam algum efeito por causa da música que tocava, com o ritmo exterior do mundo. Parecia que somente a música e o ambiente em que eu estava possuíam um andamento rítmico constante.

Interessante as sensações provocadas em nós quando passamos a reparar nelas e ocupar nosso pensamento com elas. Talvez não passe daqui neste comentário porque foram apenas quinze minutos que passei a pensar nisto enquanto estava a caminho da faculdade em um trem que me deixaria logo em seguida na estação Hebraica – Rebouças, próxima a Pinheiros.