Páginas

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

RELATOS (PARTE III)


Eu vejo além dos fatos

Presencio os marcos

No início quando os filhos

Ouvem: – Seu bandido!

Vagabundo!

e são jogados no mundo

Que lhes apresenta as drogas

O vício que amputa os craques

Quando o crack os seduz.

Relatos de um beco decepcionado.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

RELATOS (PARTE II)

Vidas caídas se exilam do mundo
Em mundos que exalam o odor acre
Da dor podre de uma pobre mulher
que amarga por não saber
donde vem as marcas da sua
Desgraça.
Relatos de um beco triste.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

RELATOS (PARTE I)

Ouço tudo, vejo tudo, sei de tudo, não me engano.

Sinto o cheiro do tráfico que passa por mim.

Sinto o medo certeiro que não tem fim

Desde que estou aqui é assim.

Relatos de um beco esquecido.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

PRINCÍPIOS

Penso acreditar em coisas que

Muitas pessoas não creem

Penso enxergar coisas que

Muitas pessoas não enxergam

Penso fazer coisas que

Muitas pessoas não fazem

Penso dizer coisas que

Muitas pessoas não dizem

Penso escrever coisas que

Muitas pessoas não escrevem

Por isso me chamam crente,

Visionário, certinho, enxerido

Metido a besta, se é que você

me permite, se ainda estiver lendo.

Mas o que quero dizer é

Que por acreditar em coisas

que muitos não creem,

Creio em Deus e mantenho a fé

Por ver coisas que muitos não veem

Enxergo além da dor e mantenho a esperança

Por fazer coisas que muitos não fazem

Tomo a atitude e mantenho a perseverança

Por dizer coisas que muitos não dizem

Digo o que penso e mantenho os princípios

Por escrever coisas que muitos não escrevem

Tento provocar uma mudança de atitude

E realizar tudo isso

Me satisfaz e mantém a vida.

O título é dedicado ao meu amigo Boaz Ben Av.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010


Quando eu ataco, busco

Principalmente crianças para o luto.

E só há um algo que possa me combater:

É o desenvolvimento social.

Mas enquanto o mundo enxerga mal

Sou alimentada e destruo

Famílias numa tacada

Não importa se no Sertão

Nas Favelas ou em África

Deixo-os em pele e osso

E nem a cachorrada da TV Colosso

É capaz de fazer rir

Quem vasculha na lata de lixo

Bebe água de poço

E se esvai aos poucos

Minguando enquanto loucos

Insanos lhes tiram o direito

De se ter o alimento

Quando roubam o que não é seu

Para preencher seus cofres

E comprar peças de museus

Para enfeitar seus egos

E mostrar aos olhos de todos

Os cegos que não enxergam

Quem sou Eu.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010


IMPRESSÕES

...olho e contemplo muitas coisas em questão de segundos. Centenas de carros que quase parados se amontoam na Marginal Pinheiros. São mais de 19h30 e ouço o som de um samba na voz de Johny Alf, um dos precursores da Bossa Nova no Brasil, em uma homenagem a ele um dia após a sua morte.

As impressões são estranhas porque muitas vezes não pensamos nelas. Então mudo o foco da minha visão e me concentro na vidraça e vejo nela o reflexo de um homem com uma camisa vermelha com listras finas e brancas na horizontal, calça jeans e uma mochila nas costas. Seu olhar de cansaço fica ainda mais aparente por causa da barba por fazer. Penso comigo se ele é feliz, se está cansado, voltando do trabalho ou indo à escola ou faculdade. Ele olha para a mesma direção que eu e até parece me encarar, então mudo o foco novamente da minha visão e vejo que estamos em um ritmo bastante acelerado enquanto tudo está parado lá fora. Aos poucos nós paramos também.

Passados uns minutos começamos a nos movimentar novamente e começo a pensar nas sensações e sinto o frio do metal em que estou segurando, o som que ouço me é agradável porque escolhi o que ouvir, e não é som de buzinas ou freadas, muito menos, o som das conversas paralelas das pessoas à minha volta, o som que ouço é da música “Corcovado” na versão de Johny Alf quando ele se apresentou na casa de shows Bourbon Street.

A sensação do som, do tato e da visão e também do mal cheiro que sinto do Rio Pinheiros levaram-me a escrever estas linhas porque cada uma delas me fazem pensar em coisas diferentes. Por exemplo, volto o olhar várias vezes para a vidraça e faço uma comparação àquilo que vemos todos os dias e pensamos nelas por alguns minutos, então é só mudar o foco e o pensamento muda, as direções mudam e até os objetivos mudam. Somos assim, porque toda vez que olhava para aquele homem voltava a pensar o porquê daquela “cara” de infeliz ou cansado. Quando voltava meu olhar para a parte exterior do meu ambiente, meu pensamento via o caos e ao mesmo tempo fazia a correlação dos ritmos interiores, que em mim surtiam algum efeito por causa da música que tocava, com o ritmo exterior do mundo. Parecia que somente a música e o ambiente em que eu estava possuíam um andamento rítmico constante.

Interessante as sensações provocadas em nós quando passamos a reparar nelas e ocupar nosso pensamento com elas. Talvez não passe daqui neste comentário porque foram apenas quinze minutos que passei a pensar nisto enquanto estava a caminho da faculdade em um trem que me deixaria logo em seguida na estação Hebraica – Rebouças, próxima a Pinheiros.



quarta-feira, 12 de maio de 2010


O PERSEGUIDO

Eu não estava presente na aula

Foi um amigo quem me contou

A história que se passa

É mais ou menos assim:

Inicio de semestre

Matrículas trocadas pelo Jupiter Web

Entro na sala e vejo um professor desconhecido

Não era esse que eu queria meu Jupiter querido

Mas temos que encarar e de cara o professor bate na mesa e diz:

Em Literatura Portuguesa quem não ler tais autores não tem o que fazer aqui.

Tentei me esconder na primeira fileira

Mas o seu olhar me causou uma tremedeira

E a cada dia seu olhar me perseguia

Até mudei de carteira, fui para o fundo da sala

Mas parece que nada adiantava

Seu olhar me perseguia até no trabalho

Na mesa com os amigos, no jogo de baralho,

Sempre havia alguém que me olhava igual

Parecia uma neurose animal

Mas sabia que estava sendo perseguido

Não dormia mais, pensando na nota final

Não era um aluno brilhante

mas havia passado com cinco as outras quatro

então no dia da prova me deu um branco

não sabia se falava de Camilo ou de Castelo Branco

então chegou o dia de saber a nota

não imaginei qual seria a minha reação

tirei três, nota suficiente para a recuperação

mas eu havia lido tudo

e sabia que o professor me observava muito

falava pouco, escrevia até as vírgulas

para não dar motivo para dúvidas

mas aquele olhar até no dia da prova

foi o suficiente para subtrair minha nota

então na aula seguinte de revisão

para a prova de recuperação

não aguentei e dirigi-me a ele

diante de todos os alunos

indignado disse: “Isso é um absurdo!”

todos se assustaram com o aluno mudo

que de repente falava sem deixar o professor lhe roubar o turno

e quando finalmente disse que havia sido perseguido

todo o semestre desde a matrícula no Jupiter Web

O professor olhou-me com um olhar discreto e perguntou:

Filho, quem é você?

E’mud’esci até o profundo de mim...